Fadista quer próximo álbum como testemunho do presente por "futuro mais justo"

Silvana Peres disse que "as narrativas [do álbum] são um convite à reflexão e à mudança, com o objetivo de aprofundar a sensibilização e contribuir para a prevenção." São testemunho do presente e visam "um futuro mais justo."

"A temática será a mulher na sociedade", disse a fadista em entrevista à agência Lusa. "Serão abordadas questões como a igualdade de género, orientação sexual, a violência, que é transversal a todas as classes sociais, quer seja violência doméstica ou no namoro, o empoderamento feminino, a maternidade e os Direitos Humanos."

A primeira amostra deste álbum é o 'single' "Violência", com letra e música de Marina Mota, que também participa na interpretação, e será publicado no próximo 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.

Além de Silvana Peres e Marina Mota, este fado, o único em que a cantora partilha a interpretação, conta ainda com as vozes de Beatriz Felício, Cristina Branco, Joana Amendoeira, Lina_, Maria Emília, Matilde Cid, Marta Rosa, Sofia Ramos, Sandra Correia, Sara Paixão, Ana Margarida Prado e Ana Rita Prada.

A fadista, conhecida pelo fado 'O Meu Pedro' (Carlos Leitão/Fado Pedro Rodrigues), disse "querer muito" que o próximo álbum "não seja um tributo ao passado, mas um relato do presente" e, em simultâneo, "um passo firme em direção a um futuro mais justo, mais livre, digno, em plena prosperidade e igualdade para todos."

Silvana afirmou que este seu próximo disco "é para os dias de hoje, pois o fado sempre acompanhou os tempos", e reconheceu que vai no sentido inverso de uma certa narrativa fadista, à qual se referiu como "marialva".

"Essa narrativa está fora do que pensam e são as mulheres de hoje em dia, que são muito mais empoderadas, mais livres e não se identificam com essas temáticas", afirmou.

"Eu própria sinto isso, não tenho vontade de cantar esse tipo de letras, não têm nada a ver comigo, como 'Antes mentiras contigo do que verdades sem ti''', disse a fadista dando como exemplo o fado 'Voltaste' (Joaquim Pimentel/António Rodrigues).

"O fado sempre cantou a sociedade e de há uns tempos para cá tenho sentido que tem havido uma desresponsabilização nesse sentido, e tem-se cantado muito a saudade, o ciúme, quando na verdade as mulheres já não é isso que querem, já não pensam dessa forma."

O álbum, melodicamente, inclui fados tradicionais e composições inéditas. Um dos temas, 'Preconceito', tem letra e música da cantora, em coautoria com Beatriz Felício.

Outras autoras, além de si própria, são Amélia Muge, Manuela de Freitas, Marina Mota, Mafalda Arnauth, Teresa Muge, Florbela Espanca, que considera "incontornável", e ainda Teresinha Landeiro, Joana Alegre, Joana Espadinha, Rita Marrafa de Carvalho, Beatriz Felício, Marta Rosa e Rita Dias.

'A Todas as Mulheres' é o terceiro álbum da intérprete, mas "o primeiro totalmente dedicado ao fado", realçou Silvana Peres que, todavia, tem feito parte de elencos de casas de fado como A Parreirinha de Alfama e Clube do Fado, onde canta há três anos. Os anteriores álbuns "foram de música lusófona e de fusão."

A criadora de 'Dança de Malandro' (Dino D'Santiago/Tuniko Goulart) afirmou que "as mulheres fadistas são as que têm maior visibilidade nacional e internacional, mas em tudo que envolve o meio fadista, de músicos a produtores, compositores, poetas, a realizadores, 'road managers' e técnicos, a grande maioria são homens."

"O fado continua a ser um meio muito masculinizado, e por isso eu decidi que neste álbum o fado acontece no feminino, com um alinhamento de 12 temas cuidadosamente selecionados para contarem histórias, todas elas escritas por mulheres, seis deles com melodias tradicionais, de autores bem conhecidos como Alfredo Marceneiro, e os outros com seis letras e musicas originais."

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